O que o paciente ganha fazendo terapia?
A análise não entrega ao paciente o que ele solicita, mas o que ele constrói.
O que esperar de um tratamento por meio de encontros periódicos entre paciente e psicanalista? O paciente fala de seus problemas, suas dores e aflições, suas alegrias e desejos e o psicanalista o escuta. Isso é realmente eficaz?
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Desde sua origem, a Psicanálise sempre foi alvo de um certo ceticismo por parte dos pacientes, mesmo daqueles sinceramente engajados no tratamento. Afinal, o que haveria de curativo no simples ato de falar e escutar? Parte desse ceticismo, convém dizer, pode estar associado à resistência do paciente em relação à sua própria cura. [A resistência do paciente à sua própria terapia >>]
Mas afinal, quais são as expectativas mais comuns do paciente em relação à análise e o que pode o analista dizer sobre elas? Do ponto de vista corriqueiro, pode-se dizer que a análise é um serviço prestado por um profissional especializado na área do bem-estar mental, emocional e mesmo psicossomático. Não é raro, inclusive, que o psicanalista seja procurado por questões de relacionamentos afetivos, familiares e profissionais, quando o paciente se dá conta de que seu quadro psíquico o está afetando nas suas convivências sociais. E ao chegar ao consultório (virtual ou presencial) do psicanalista, o paciente traz, junto com o desejo pela cura, a curiosidade legítima de saber o que o profissional tem para oferecer-lhe. Enfim, o paciente quer saber o que o psicanalista pode fazer para cessar os males que o afligem.
É natural que, no aspecto das práticas profissionais, a análise possa ser encarada como um serviço a que recorre o paciente que, por sua vez, investe nele tempo, dinheiro e alguma confiança expressa na forma de sua expectativa de melhora de seu quadro clínico. Porém, a prática clínica psicanalítica não é desses serviços que oferecem resultados perfeita e infalivelmente previstos, inclusive com cálculos precisos de duração.
Embora seja um serviço profissional, a Psicanálise não pode ser medida com a mesmíssima régua das práticas mercadológicas, onde se pesa objetivamente o tempo, o custo, o ganho e a certeza do controle sobre resultados inicialmente almejados. Ou, para melhor dizer, resultados fantasiados. Sim, porque na análise os resultados serão sempre resultados do processo e em processo, como na própria vida. Num exemplo hipotético, pensemos em um paciente que inicia uma análise determinado, digamos, a aplacar o seu ciúme que tanto prejudica seu relacionamento com o parceiro ou parceira. Vamos supor, nesse exemplo, que, no processo de análise, o paciente descubra que o ciúme não era a sua questão fundamental, que o ciúme era somente a superfície de causas psíquicas mais profundas, ou que o parceiro ou parceira não é, enfim, o amor de sua vida, que passe a considerar ficar sozinho ao menos por uns tempos, etc., etc. E ao longo da análise, o paciente vai se dando conta de que os nós que o apertavam internamente, produzindo dores psíquicas, vão se afrouxando e ele vai conseguindo viver um pouco melhor.
Lembrando Sándor Ferenczi (psicanalista contemporâneo de Freud), convém conceber a análise como um processo evolutivo que se desenrola sob os nossos olhos, e não como um trabalho de um arquiteto que procura realizar um plano preconcebido. O que podemos, enfim, dizer ao paciente que chega a nossa clínica é que, ao longo dos seus mais de 120 anos, a Psicanálise tem proporcionado aos pacientes que perseveram na sua análise descobertas profundas e importantes ressignificações sobe si mesmos, e que a melhora e mesmo o fim dos sofrimentos iniciais são somente consequências, resultados naturais, do processo de análise. E de novo citando Ferenczi, podemos dizer que, se o paciente perseverar no seu tratamento, poderá adaptar-se melhor às dificuldades inevitáveis da vida, e com uma distribuição mais justa de energia.
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