A resistência do paciente à sua própria terapia
Deixei de gostar da minha análise. E agora?
Eu sei que preciso muito de análise, mas a coisa não avança, empacou… No começo era bom, mas de repente parece que fazer as sessões virou um sacrifício, não sei o que fazer.
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Ao contrário do que se poderia imaginar, é muito comum, em algum momento da análise, o paciente apresentar as mais variadas manifestações de desconforto. Perda do interesse, ansiedade, descrença no processo ou no psicanalista, achar que não está adiantando fazer análise, não conseguir tocar em determinados assuntos com o psicanalista, alegar para si mesmo que já está curado, são algumas das inúmeras formas de o paciente boicotar o seu processo analítico. Mas, se ele foi procurar um analista por conta de suas questões e sofrimentos psíquicos, como pode querer prejudicar a si mesmo com essas e tantas outras desculpas para parar a análise?
Acontece que em nosso inconsciente coabitam desejos contraditórios. Ao mesmo tempo, desejamos uma coisa e também o seu oposto. São as ambiguidades e ambivalências próprias do mundo psíquico. [Uma viagem ao inconsciente >>]
Atento a isso, o psicanalista escuta o paciente com cuidado e procura contribuir para que o trabalho analítico prossiga. Observe que a análise é um trabalho empreendido pela dupla paciente/psicanalista, e como tal pede o empenho da dupla e pressupõe momentos agradáveis e também ocasiões menos confortáveis, ou seja, na análise nem tudo são flores.
Quando o paciente se pega rejeitando a própria análise pelos motivos citados acima ou por outros quaisquer, o que muito provavelmente está acontecendo é o que na Psicanálise chamamos de resistência. E o incrível é que esse problema pode ser ao mesmo tempo uma solução. É que, se por um lado a resistência desestimula o paciente a prosseguir na análise, também significa que ele se encontra diante de questões psíquicas importantes para o seu tratamento. Como disse o escritor Guimarães Rosa, o senhor ache e não ache. Tudo é e não é…
Estar às voltas com uma resistência no processo analítico é como estar diante de uma porta fechada. Uma analogia possível que podemos empregar em relação à análise é que ela pressupõe a aventura de abrir portas dentro da gente. A resistência é quando a gente quer e não quer abrir uma determinada porta. E nessas horas, dizemos que o psicanalista é um holding do paciente, pois só quem pode executar o trabalho de abrir a porta é o próprio paciente. E para essa analogia ficar mais fascinante, o querer do paciente não depende de sua vontade consciente, mas de meandros e processos inconscientes que a dupla analítica vai deslindando pouco a pouco ao longo dos encontros nas sessões analíticas.
E na viagem para dentro de si, na medida em que uma porta é aberta, outras surgem. E vão sendo abertas, e vão aparecendo outras… E nesse processo, os incômodos da superfície costumam ir se afrouxando, ou seja, os sintomas, os sofrimentos psíquicos que trouxeram o paciente para a análise vão ganhando sentidos novos, podendo sofrer modificações, e as dores da alma vão ganhando contornos suportáveis. Nessa jornada, o paciente haverá de contar com a paciência consigo mesmo e com a perseverança no processo da análise, que é um encontro vivo entre paciente e psicanalista. E como tal, implica o que concerne à própria viagem de viver. Como nos ensina Guimarães Rosa, o correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Assim também é no processo de análise.
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