O que é ansiedade e o que fazer com ela
A ansiedade pode vir acompanhada de pânico e fobia.
A ansiedade é a campeã das queixas dos pacientes nos consultórios de atendimento psicanalítico. E mesmo quando o paciente apresenta outras queixas, a ansiedade costuma aparecer na lista dos desconfortos que ele enumera já nos primeiros atendimentos. E, muitas vezes, ela vem associada ao pânico e à fobia, agravando o sofrimento do paciente.
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A ansiedade para a Psiquiatria
Para a Psiquiatria, a ansiedade é uma espécie de “irmã” de outros dois transtornos: o pânico e a fobia. Nessa “família”, a ansiedade é um sentimento ligado à preocupação, nervosismo e medo intenso. Apesar de ser uma reação natural, quando se perde o controle e a duração desse sentimento, a ansiedade pode virar um distúrbio que produz desconforto importante e acomete a saúde.
Por sua vez, o pânico é caracterizado por crises de ansiedade repentina e intensa com forte sensação de medo ou mal-estar, acompanhadas de sintomas físicos, como aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração, falta de ar, pressão ou dor no peito, palidez, suor frio, tontura, náusea, tremores, desmaio.
Já a fobia é um transtorno da ansiedade no qual o aspecto central é um medo persistente e irracional de um objeto, atividade ou situação específicos, que o indivíduo se sente compelido a evitar. O indivíduo reconhece que o medo é excessivo e despropositado.
Como podemos notar, tanto o pânico quanto a fobia são como que desdobramentos da ansiedade. Em linguagem simples, podemos dizer que a agonia que se instala numa crise de ansiedade pode permanecer como agonia propriamente, pode transformar-se em pânico, quando acomete fisicamente o paciente, ou pode deslocar-se para um medo infundado e excessivo de um objeto ou de uma cena.
A ansiedade para a Psicanálise
O termo cunhado tradicionalmente pela Psicanálise para a ansiedade é angústia, que é um medo muito forte e sem razões plausíveis, que persiste a acompanhar o paciente, provocando muito desconforto psíquico, prejudicando o seu bem-estar. A ansiedade costuma ter, como sua contraface, a depressão. [O que é preciso saber sobre a depressão>>]
Sem entrar nos meandros dos estudos psicanalíticos, em linhas gerais, o pânico e a fobia são desdobramentos da angústia, sendo o pânico a angústia expressa no próprio corpo do paciente, enquanto que na fobia, a angústia se expressa fora do corpo, ou seja, o medo exagerado se desloca para coisas e situações, como medo de andar de avião, andar sozinho por ruas desconhecidas, medo de injeção, etc.
Notemos que os três sintomas não ocorrem isoladamente, sendo que a angústia é como que a matriz dos demais sintomas, ou seja, a exposição do paciente ao objeto ou situação fóbica pode levá-lo a uma crise de pânico, mas a angústia também fará parte do quadro manifesto. Por sua vez, a angústia pode permanecer como desconforto importante a minar o paciente psiquicamente sem que se manifeste nem o pânico, nem a fobia, permanecendo essa angústia dentro dele na forma de sofrimento atroz, porém silencioso.
Os escritores Laplanche e Pontalis, em seu Vocabulário da Psicanálise, afirmam que há diversas formas de angústia, e destacam a angústia crônica ou espera ansiosa suscetível de se ligar a qualquer conteúdo representativo que lhe possa oferecer um suporte, que é o que poderíamos chamar de uma espécie de angústia sem endereço definido, a angústia acompanhada ou substituída por diversos equivalentes somáticos, tais como vertigem, dispneia, perturbações cardíacas, sudorese, etc., que caracteriza o pânico, e a angústia ligada a uma representação externa, mas sem que se possa reconhecer nessa representação um substituto simbólico de uma representação recalcada, ou seja, quando ocorre o medo fóbico, que é inverossímil, já que o objeto do medo não apresenta em si nenhum perigo real.
O que fazer com a ansiedade?
Para o paciente, compreender o seu sofrimento psíquico ocasionado pela ansiedade, saber que esse é um mal que pode afetar sua saúde emocional e física, tomar consciência que muitas vezes a ansiedade pode ser um sofrimento silencioso e solitário, mas que acomete uma quantidade significativa de pessoas, enfim, entender que a ansiedade deve ser levada a sério e precisa ser tratada, já é o primeiro passo.
Por outro lado, a ansiedade, ou angústia, é um sofrimento psíquico que faz o paciente clamar com urgência por alívio. Muitos chegam à clínica psicanalítica com um quadro de sofrimento que lhes parece impossível de suportar. Muitas vezes, associam-se à sua angústia noites seguidas de insônia, pensamentos obsessivos e tristeza profunda.
Nesses casos de dor psíquica mais intensa, o tratamento psicanalítico pode ser associado a um acompanhamento psiquiátrico com medicação prescrita pelo psiquiatra, pois às vezes os sintomas são tão intensos que pode ser necessário agir sobre eles por meio de substâncias por curto, médio ou longo período. Mas, mesmo nesses casos, ao longo do processo de análise, o paciente poderá ir deixando de necessitar de medicamentos.
As causas profundas da ansiedade devem ser tratadas psicanaliticamente, pois é ao longo do processo analítico que o paciente vai se deparar com seus complexos inconscientes causadores dos seus sofrimentos. Partindo da ansiedade como sintoma, a análise vai alcançando as camadas mais recônditas do psiquismo do paciente, onde se entrecruzam pulsões, afetos e representações mentais. E durante o processo, o paciente vai acessando e experimentando o seu mundo interno. Por meio dessa incursão, o paciente vai ressignificando afetivamente os seus próprios afetos e, na superfície, ou seja, no nível dos sintomas, a ansiedade vai sendo trabalhada consequentemente. [Uma viagem ao inconsciente >>]
Por fim, é importante ressaltar que, embora o tratamento psicanalítico parta do sintoma – no caso, da ansiedade – , não se restringe apenas a cuidar dele em si, nem se restringe a generalizar ou padronizar sua etiologia, pois ao buscar as suas causas profundas, leva em conta que cada pessoa tem sua própria constituição psíquica, que é singular, de modo que cada paciente que sofre de ansiedade vai ser acometido por esse sintoma por causas psíquicas diferentes dos demais pacientes, de modo que na clínica psicanalítica cada paciente terá o seu tratamento pessoal e intransferível, pois em se tratando de questões psíquicas, cada caso será realmente um único e distinto caso.
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